A dualidade corpo/alma, no Fédon, de Platão

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DATA DE PUBLICAÇÃO

2009

RESUMO

O Fédon é um dos diálogos de Platão de maior dificuldade de entendimento. Um dos temas de maior relevância que nele é abordado é a dualidade corpo/alma. O plano dramático do diálogo é a narrativa da morte de Sócrates, que mesmo estando preste a ser executado se encontra feliz. Seus discípulos estranham tal felicidade e para justificar o motivo de sua alegria Sócrates expõe que só assim poderá abraçar o objeto de seu desejo, a verdade, pois só quando a alma se aparta do corpo definitivamente é que se pode chegar à plenitude do conhecimento. Sócrates define o conceito de morte como a separação do corpo e da alma, e é neste estado, separada dele que consegue chegar à plenitude da sabedoria, pois o corpo para a alma nesta vida é uma espécie de prisão no caminho da busca pelo saber, sendo assim a morte é almejada por todo aquele que ama a sabedoria. O tema da dualidade corpo/alma perpassa todo o diálogo, Platão articula a relação entre estes abordando-a de diferentes modos. São duas as vertentes que são articuladas no Fédon para estabelecer a necessidade da separação do corpo e da alma: a onto-epistemológica e a ético-antropológica. O sentido ético culpa o corpo em tendenciar o homem às paixões(66bss), em contrapartida com a alma que o leva à prática das virtudes(68-69) e à atividade filosófica; a onto-epistemológica parte da relação que Platão estabelece, por um lado, entre corpo e a percepção-sensível (aísthêsis) e, por outro, a alma e a aquisição do saber (epistême), de forma mais minuciosa, entre o corpo e os sensíveis e a alma com as Formas inteligíveis. Dizer que Platão despreza o corpo em detrimento da alma refletiria na afirmação de que ele despreza a senso-percepção em detrimento da aquisição do saber. Inúmeros comentadores e diversos compêndios têm se inspirado no Fédon e na República para defender esse desprezo, que Platão, segundo eles, manifesta pelas sensações.Todavia, tal tese vem causar um grande problema no entendimento de toda a obra platônica, visto que no Teeteto (152d) Platão identifica o corpo, na sua função senso-perceptiva, com o saber, dando a esse nesta busca uma participação muito relevante. A leitura da obra platônica deve ser feita vendo o conjunto de sua obra, ele não escreve tratados filosóficos, mas diálogos que pedem um especial cuidado na sua interpretação. O sentido dualista radical, esse desprezo pelo corpo e pela sensação atribuído a Platão, que pode ser entendido na leitura do Fédon é resolvido no próprio diálogo, a partir dos argumentos da reminiscência e da Teoria das Formas. O presente trabalho analisa a solução dos problemas que Platão desenvolve no diálogo e as possíveis dificuldades de interpretação que possam ser nele encontradas, tendo em vista a conclusão que se desenvolve no próprio diálogo sobre a natureza do saber, do bem e da dialética, condensadas na Teoria das Formas.

ASSUNTO(S)

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